Na ida ao trabalho, já começa a se materializar o suplício diante daquela tenebrosa perspectiva de passar o expediente enfurnado detrás da mesa cumprindo uma rotina de tarefas odiosas. O chefe não se importa com a situação e os colegas do escritório estão sempre mais próximos das promoções e dos elogios. Diante disso, resta apenas praguejar contra a má sorte na sala do café e olhar o relógio da parede, esperando a passagem das horas. Esse é o quadro clássico de desmotivação profissional – e boa parte das pessoas já sentiu isso tudo na própria pele. A novidade é que as modernas técnicas de recursos humanos podem ajudar a diagnosticar onde está o problema antes que ele enterre o futuro do funcionário. Os testes de personalidade, que até pouco tempo atrás eram usados somente para identificar a vocação de adolescentes, foram adaptados e começaram a ser aplicados em gerentes e executivos à beira de um ataque de nervos. Os resultados servem para indicar novos rumos para a carreira estagnada. A ferramenta não é útil apenas aos profissionais em crise mas também às empresas.
Para elas, empregado desmotivado é sinônimo de baixa produtividade. De acordo com a consultoria Hay do Brasil, as corporações que ganharam prêmios de qualidade na última década têm duas coisas em comum: todas investiram na satisfação de seus empregados e contam com o empenho e a motivação de mais de 70% de seu quadro de funcionários.
Mais do que esperar pela injeção de ânimo aplicada pela empresa, é importante saber reconhecer os sintomas que levam à queda de produtividade. Afinal, nem sempre se pode contar com a boa vontade, a paciência e a compreensão da chefia em situações como essa. Identificar as etapas do desânimo e, principalmente, suas causas é fundamental para tomar uma atitude antes que o problema se agrave. "A desmotivação profissional segue um roteiro muito parecido com o da doença depressiva", compara Paulo Gaudencio, psiquiatra e consultor de empresas. Primeiro surge o desinteresse – o dia fica comprido e as horas demoram a passar. Depois, o desânimo generalizado chega a um ponto em que o sujeito não quer nem mesmo se levantar da cama de manhã. "Nesse instante, o profissional precisa pensar seriamente em mudar sua rotina", diz Gaudencio. Com a ajuda de Simon Franco, especialista em recursos humanos, VEJA preparou um teste para você identificar o grau de insatisfação com seu trabalho.
É evidente que só consegue avaliar a situação profissional aquele que, antes de tudo, for muito honesto consigo mesmo. "Claro que um bom ambiente, salário justo e chefes que incentivem os subordinados são importantes", observa Eva Batista, da Manager, uma das maiores empresas de consultoria do Brasil nessa área. "Mas a principal motivação é individual, ou seja, está ligada à capacidade de cada um de lidar com suas expectativas, frustrações e problemas." Em outras palavras: quando o funcionário está esperando uma promoção que não vem, não consegue levar adiante seus projetos na empresa e tem menos poder de decisão do que gostaria, nem sempre a culpa é da estrutura. "Se você não gosta das tarefas que executa, da área em que trabalha, da empresa ou da profissão que escolheu, dificilmente conseguirá manter-se animado", exemplifica Eva Batista. Quando alguém chega a esse estágio crítico, não há programa capaz de recuperar a auto-estima perdida. A situação extrema indica que talvez seja uma boa hora de buscar motivação em outro emprego.
Ed. 1662 - Veja - 16/08/2000
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